segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

IPOJUCAN

Ipojucan Lins de Araújo
Nascimento: 3/6/1926, Maceió-AL
Falecimento: 19/6/1978, São Paulo-SP
Período: 1944 a 1954
Posição: Meia/Atacante
Títulos: Carioca (1947, 1949, 1950 e 1952), Sul-Americano (1948)




          "UM ARTISTA DA BOLA"








"Alto, esguio e magro. E um craque acima da média. Assim era Ipojucan Lins Araújo, um verdadeiro conhecedor dos meandros de uma bola. Seus malabarismos com a canhota encantavam os admiradores do futebol bem jogado, intuído, cheio de improvisos e toques de genialidade.


Sabará, Alfredo II, Ipojucan, Ademir e Chico
uma  linha de ataque totalmente identificada com o Vasco
(foto do acervo da família de Ademir)

Nascido em Maceió, Alagoas, no dia 3 de junho de 1926, logo cedo ele veio para o Rio de Janeiro e não demorou para ser descoberto pelos olheiros espalhados nas esquinas suburbanas.

Ipojucan - craque de notável habilidade!
Foi no bairro da Piedade que ele chamou a atenção de um dirigente do Ríver, que o convidou para jogar por lá. Mas ele não ficou muito tempo na equipe e logo se transferiu para o Canto do Rio. Seu destino, no entanto, tinha um endereço: o Vasco da Gama, onde se consagrou como o quarto maior artilheiro da equipe cruzmaltina, com 225 gols em 413 jogos, entre 1944 e 1954.

Muitos diziam que ele sumia durante alguns jogos. Na final do campeonato estadual de 1950, isso literalmente aconteceu e ele levou uma dura do treinador vascaíno, o falecido Flávio Costa. Em uma entrevista à Folha de S.Paulo em 1995, o ex-treinador, então com 88 anos, lembrou-se com detalhes daquele episódio que marcou a carreira do jogador.

"O Ipojucan, do nosso time, era um artista com a bola. Driblou a defesa toda do América e apenas levantou a bola para a mão do goleiro. Quis colocar e pegou mal. O Ipojucan colocou a mão na cabeça, atordoado. Estava 1 a 1 no intervalo. Saí gritando, incentivando na volta ao campo. Em meu vestiário nunca rezei Pai nosso", contou.

Em seguida, o treinador comentou sobre a indisposição de Ipojucan. "Nunca fiz promessa. Os jogadores, então, voltaram ao campo. Eu fiquei para tomar um cafezinho. Na boca do túnel do Maracanã, vi que o Ipojucan não queria voltar".

Experiente, Costa soube o que fazer. Mandei o Augusto, capitão do time, avisar o juiz que o Ipojucan voltaria depois. Naquele tempo se proibia substituição. Pensei que o Ipojucan quisesse vomitar, coisa assim. Mas vi que ele estava deitado no chão do vestiário. E eu, disputando o campeonato. O que o técnico poderia fazer? Dei duas bolachas nele. "O seu filho de uma...", contou.

E Ipojucan voltou na marra. "Saí atrás e ele correu pelo corredor. O corredor vai dar no campo. O Ipojucan entrou no campo. Depois, por todo o segundo tempo, ele ficou me olhando. Ipojucan deu o passe para o Ademir fazer o gol e ganhamos o campeonato", concluiu.

Consagrando Vavá - Também o craque Vavá, ex-centroavante do Vasco e bicampeão mundial com a seleção brasileira em 1958 e 62, levou consigo boas recordações do companheiro, que, com seus toques leves, curtos e sutis, sempre ajudava na consagração dos craques de ataque.

Vavá, falecido em 2001, nunca se esqueceu de que foi Ipojucan quem o ajudou a se firmar no time em 1953, quando vinha das categorias de base. Na ocasião, o Vasco venceu o Bangu por 4 a 1, com um dos gols de Vavá.

"Eu era juvenil, fã daqueles jogadores. Jogar com eles foi muito importante na minha vida, para minha carreira. No gol da vitória, Ipojucan deu um passe daqueles que só ele sabia dar e me deixou na cara do gol. Mal chegou ao pé dele, a bola já estava à minha frente. Chutei no embalo e marquei. Foi um jogo duro, o Bangu tinha um bom time e valorizou ainda mais nossa vitória", recordou-se Vavá.

Depois de conquistar cinco títulos cariocas pelo Vasco, transferiu-se para a Portuguesa de Desportos, além de vestir em oito ocasiões a camisa da seleção brasileira. Gostava da noite, e isso ajudou a encurtar sua carreira de puro talento." (Fonte: site SUPERVASCO)


Friaça, Ademir, Ipojucan e Maneca.



"Ipojucan integrou o Expressinho Cruzmaltino desde 1946 e assumiu a posição de titular absoluto a partir de 1949.  Atuou como médio e até centroavante, mas sua posição era na verdade meia-armador. Mesmo sendo muito alto, com mais de 1,80m, tinha uma habilidade notável e uma técnica invejável, mas às vezes, ficava meio disperso em campo... Fazia parte do elenco campeão Sul-Americano em 1948, apesar de não ter viajado com a delegação. Esteve presente nas conquistas do Quadrangular Internacional do Rio, no Torneio de Santiago no Chile e no Rivadávia Correia Meyer." (trechos do livro "UM EXPRESSO CHAMADO VITÓRIA", de Alexandre Mesquita e Jeferson Almeida)





O jornalista Sérgio Cabral, em uma edição recente da Revista Oficial do Vasco (n.13/anoII), homenageou o craque  - "O GENIAL IPOJUCAN":
"Nilton Santos, a Enciclopédia do Futebol, tem uma admiração especial por um atleta que nunca jogou no seu Botafogo, mas no nosso Vasco: Ipojucan, um cara de quase 1,90 metro de altura que, para muita gente boa, foi o único a merecer comparação com Pelé, em matéria de intimidade com a bola. Mas não era só com a bola. Nilton Santos me contou que, na concentração da Seleção Brasileira, ele e Ipojucan jogavam sinuca e o giz quebrou na hora em que marcava seus pontos no quadro. O próprio Nilton aparou o giz com os pés, fez uma embaixada, passando-o para o jogador do Vasco que deu início a uma série de malabarismos usando os dois pés, o calcanhar, a cabeça, o ombro, todas as partes do corpo onde o objeto caía. Tudo isso, durante intermináveis minutos.
Ele era assim, meu caríssimo leitor. Se Ipojucan jogasse no tempo em que a TV já gravasse em videoteipe, seu futebol mereceria uma câmera exclusiva para acompanhá-lo em campo e gravar, para a posteridade, alguns dos momentos mais maravilhosos da arte de jogar futebol. Não me lembro de um artista da bola tão requintado e tão surpreendente. E não se diga que a habilidade de foca amestrada servia somente para fazer shows. Vi o Vasco e a Seleção Brasileira venceram muitos jogos, graças às suas jogadas sensacionais.

Talvez sua carreira fosse mais bem-sucedida, se levasse a sério a sua condição de atleta, pois adorava uma noitada, pelo menos, no seu tempo de solteiro. Embora muito alto, havia jogos em que sumia, como se não estivesse em campo. Enquanto todo mundo corria em busca da vitória, ele dava muitos motivos para reclamações do técnico e dos companheiros. Mas eis que, de repente, não mais que de repente – como escreveu Vinícius de Moraes-, fazia uma jogada genial que terminava em gol do Vasco. Ele ria, como se debochasse dos colegas que reclamavam. No intervalo de um jogo decisivo Vasco x América, durante o campeonato de 1950, ele dizia não passar bem e que não voltaria ao campo no segundo tempo. O técnico Flávio Costa deu-lhe uns safanões (dizem até que lhe bateu, o que me parece um tanto quanto inverossímil) e o obrigou a jogar. Pois foi ele quem deu, ao grande Ademir, o passe que resultou no gol da vitória e a conquista, pelo Vasco, do campeonato de 1950.

Em 1945, ainda no juvenil, fez parte do invencível grupo vascaíno que ganhou o Campeonato Carioca. Foi uma das peças principais das conquistas estaduais de 1949 (o Vasco foi campeão invicto), 1950 e 1952, além de fazer parte do time que, em 1948, venceu a disputa entre os clubes campeões dos países da América do Sul (primeiro título internacional de uma equipe brasileira no exterior), bem como campeão pan-americano (1952) pela Seleção Brasileira, no Chile. Em 1954, foi transferido para a Portuguesa de Desportos (SP), quando já não brilhava tanto, provavelmente, por problemas de saúde. Permaneceu em São Paulo, onde constituiu família e enfrentou, mais tarde, um grave problema renal que o levou a se tornar um dos primeiros brasileiros a receber transplante de rins (sua irmã foi doadora). Morreu em 1978, em plena Copa do Mundo da Argentina, aos 52 anos de idade. Ipojucan permanece na memória de todos aqueles que o viram jogar. Por isso, quero que as gerações posteriores saibam que esse gênio existiu e deu muitas alegrias não apenas aos vascaínos, mas a todos que gostam de futebol." (coluna do Sérgio Cabral na Revista Oficial do Vasco)



Ipojucan recebe a faixa de campeão (1952)
do jornalista Paulino Noronha Lima.



Ipojucan não era o principal artilheiro do Vasco, mas fazia seus gols...

Confira os seus números em três campeonatos conquistados pelo Gigante da Colina:

Campeonato Carioca/1949 - 12 gols;
Campeonato Carioca/1950 - 12 gols;
Campeonato Carioca/1952 - 8 gols.


No site do Mauro Prais, ele aparece como quinto maior artilheiro do Vasco em todos os tempos: 225 gols (413 jogos).











A seguir, uma pequena galeria de imagens de equipes vencedoras! E com o Ipojucan presente em diferentes formações do Expresso da Vitória.

1949 - Campeão Carioca Invicto
(foto: site do Mauro Prais)


1950 - Primeiro Campeão no Maracanã
(foto: site do Mauro Prais)


1952 - Último campeonato carioca conquistado pelo Expresso da Vitória
(foto: site do Mauro Prais)


1953 - Campeão Octogonal Rivadavia Meyer
Em pé:  Mirim, Ernani, Haroldo, Eli, Danilo e Jorge
Agachados Mário Américo, Sabará, Maneca, Ipojucan, Pinga e Dejair


"Gostava muito do Ipojucan. Da época do Expresso me lembro de um jogo em que o Ipojucan, depois de fazer um gol no Castilho, abriu os braços no meio de campo e caiu na gargalhada. Ele era assim mesmo, irreverente. Se tivesse mais cabeça, teria ido mais longe no futebol porque era um cracaço." (Sérgio Cabral - trecho de um depoimento publicado no livro "Um Expresso Chamado Vitória").





Ipojucan na Seleção Brasileira

- participou de 8 jogos;

- Campeão Pan-Americano em 1952.
O Pan-Americano foi realizado em Santiago (Chile). Foi o primeiro título internacional conquistado pela Seleção fora do Brasil.










Fontes:
- SUPERVASCO (http://www.supervasco.com/)
- Revista Oficial do Vasco, Ano II, n. 13 (coluna do Sérgio Cabral)
- Site do Mauro Prais (www.netvasco.com.br/mauroprais)
- Livro UM EXPRESSO CHAMADO VITÓRIA (Alexandre Mesquita e Jefferson Almeida)